terça-feira, 9 de maio de 2023

Críticas - WHIPLASH (2014)

 Dirigido por: Damien Chazelle


Musicais… ame ou odeie! Esse estilo de filme é carregado de preconceitos. Mas é inegável, as grandes contribuições que alguns musicais deram ao cinema. Cantando na Chuva (1952), Amor, Sublime Amor (1961), Minha Bela Dama (1964)... Mais recentemente, o jovem diretor americano foi campeão em indicações ao Oscar, por um dos (já considerados) grandes musicais do século: La La Land (2016). Porém… perdão, fãs de Emma e Ryan… Whiplash é o melhor filme do Damien.

  Tudo bem que Whiplash não conta com falas cantadas, diálogos ritmizados, rimas repentinas… Não. Nesse filme, a estrela musical é a bateria. É um musical de bateria. Só por essa informação, já notamos a originalidade dessa película. Afinal, é um grande desafio para um diretor, fazer um musical de um instrumento tão subestimado. Mas acredite: depois que você assistir Whiplash, nunca mais ouvirá músicas da mesma maneira.

  Como vemos na direção incrível de Damien, as luzes estão na bateria e no baterista. E através de um aluno de música, Chazelle pôde tocar num ponto social extremamente importante. A busca pela perfeição (Como diz o subtítulo em português).

  O filme como todo é minimalista e direto ao ponto. Roteiro, direção, montagem… tudo foi feito de forma categórica. E que deu foco, através do trabalho de luz e sombra, de fotografia e de câmera lenta, ao que realmente importava. Primeira cena: bateria e Andrew (Miles Teller). Luz em cima dos dois. Andrew começa a tocar uma música difícil, que ele executa com perfeição. Um homem entra na sala: Terence Fletcher (J.K. Simmons). Foco nele também. Impressionado com a atuação de Andrew, ele o avisa de que está de olho nele, para promovê-lo na escola de música.

  Fazendo uma homenagem ao seu próprio curta-metragem que originou esse filme, a sala da turma “b” é bem iluminada, com tons de branco e azul ao redor (Damien usou as cores também para enfatizar o clima das cenas). O Professor Fletcher entra na sala, e convida Andrew para subir de turma. 

   A sala “a”, já é bem diferente da anterior. Bastante escuridão, tons pretos ao redor e pouquíssimo amarelo. Lá está Terence Fletcher, sorridente com a entrada do novo aluno, conversou com ele antes da primeira aula de maneira amigável. Tudo maravilhoso. Até que Andrew começa a tocar. A mesma música do início do filme, porém com um… TEMPO diferente. Primeira tentativa… pare! De novo… segunda tentativa… pare! De novo! terceira tentativa… opa… foco mais fechado em Fletcher e em sua mão. De novo! Agora o professor parece mais satisfeito, soltando um sorriso, até que… uma cadeira voa na direção de Andrew. O professor se aproxima dele, e com a fala acelerada soberba do J. K.,que já conhecíamos em Homem-Aranha (2002), Fletcher destrói com o psicológico de Andrew logo de cara. Gritando, esbofeteando-o, berrando: VOCÊ NÃO ESTÁ NO MEU TEMPO! 

  Depois disso, o personagem de Andrew passa por uma falência psicológica e social. Perdendo a paciência com sua família, que não valoriza sua carreira, terminou com a namorada. Toda sua vida, passou a ser tocar melhor a bateria para impressionar seu professor. Tocando Whiplash (a música) em casa debaixo de sangue, suor e gritos.

  E assim chegamos a sequência mais pujante do filme. Andrew deve batalhar com outros dois para ser o principal na próxima apresentação. Nesse momento, Terence mostra o pior do seu lado sargento. Chateado pela morte de um antigo aluno, e pela má atuação de seus bateristas, ele os obriga a tocar seguidamente, sem descanso, até que algum deles alcance o tempo do professor e  ganhe a música. Muitos gritos, muito sangue misturado com suor e muita dor. Exibida de forma monumental pelo Miles e os outros atores. Até que às 02h, Andrew ganha a música.

  Nosso personagem principal tem sua primeira conquista! Mas algo ainda parece errado. Ele ainda está tenso. Seu nervosismo, acaba desencadeando em uma sequência de erros, que acabou originando um desastre. Andrew não só perde a música, como é expulso. Desde a cadeira na cabeça de Andrew, até a expulsão, vimos um personagem caminhando para a insanidade. Em seus ensaios com sangue e suor, os gritos do professor… até que no ápice da loucura, ele ataca Fletcher.

  A próxima sequência, é meio que uma jornada do herói. Andrew pára com a música, mas continua cercado por ela. Até que… ele reencontra Fletcher meses depois. Só de pensar na finalização desse filme… eu tenho arrepios. Para mim, está entre as maiores da história!

  Whiplash é um dos meus filmes favoritos. O roteiro, vencedor do Óscar, é sensacional. Com nuances de suspense, drama, um belo toque “scorsesiano”, mostrando uma tragédia psicológica, e a finalização soberba! Miles Teller tendo sua grande atuação na carreira. Um domínio de expressões incrível, exacerbando verdadeiramente toda a dor física e psicológica que ele sentia. J. K. Simmons, vencedor do Óscar de Melhor Ator Coadjuvante, num personagem assustador. Claramente baseado no Sargento Hartman (R. Lee Ermey), do filme Nascido Para Matar (1987). As roupas escuras, falas aceleradas, a violência na gesticulação e tons de voz. E a bateria?! Uau! O som desse filme é incrível! Vencedor do Óscar, deu ênfase máxima a um dos personagens principais da película! Ufa… que bela história! Damien Chazelle e seu filme foram indicados ao Óscar de Melhor filme e Direção, perdendo para Birdman (2014), de Alejandro González Iñárritu. Com um final incrível, onde esses três personagens aí de cima, se encontram no paraíso.

  Damien Chazelle trata nesse filme um tema muito importante: a velocidade e alta carga de pressão da atual sociedade. Hoje, os resultados são esperados por cada vez menos tempo. Se você não for perfeito, não entra na faculdade. Se você não for perfeito, não é promovido ao emprego, ou sequer entra nele. Se você não for perfeito, não malhar, se alimentar bem, ter emprego, ganhar dinheiro… não consegue uma namorada. Não tem uma vida. De certa forma, Terence Fletcher existe em cada um de nós. Na mente de cada pessoa, existe um Sargento Hartman, berrando em nossos ouvidos, cuspindo em nossos rostos, jogando cadeiras em nossa cabeça até “ACERTARMOS O SEU TEMPO!”. Se não, somos expulsos… e não conseguimos alcançar nossos objetivos. Falei anteriormente de O Rei da Comédia. Os finais são bem parecidos, por deixar a mesma pergunta. Note tudo que Andrew passou no filme, sofrendo acidentes, perdendo a sanidade, derramando litros de suor e sangue… até alcançar o sorriso do professor. Você faria o mesmo? Está disposto a passar pelo mesmo que Andrew, para alcançar a perfeição?

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