quarta-feira, 24 de maio de 2023

Críticas - O FAROL (2019)

 Dirigido por: Robert Eggers


Esse não é um filme de terror comum. Quem assistir esperando tomar sustinhos toda hora, a presença de um monstro esquisito, que age das formas mais peculiares possíveis, um grupo de personagens, normalmente com dois bobões, um casal bonito e uma pessoa mais inteligente, vai quebrar a cara e não vai gostar do filme. Mas O Farol tem muitas texturas e camadas. Não é um filme atrativo pra galera do mainstream. Primeiro; a fotografia em preto e branco, que já de cara afasta a grande massa que hoje enche as salas de cinema. Segundo, o roteiro que não se explica; algo que também não é atrativo. Nada contra! Cada um com seus gostos. Vamos por partes.

  A escolha da fotografia em preto e branco, é uma clara referência ao expressionismo alemão e à montagem soviética. Eggers usa muitas técnicas dessas escolas. Como os closes máximos e a pouca movimentação das câmeras. A fotografia feita por Jarin Blaschke, é sem dúvidas o principal destaque do filme, sendo indicada ao Oscar (perdendo para 1917, feita por Roger Deakins). As atuações brilhantes de Robert Pattinson e Willem Dafoe, ajudaram muito também. Suas expressões eram sempre carregadas e exageradas, e a representação dos dois em si foi espetacular. Não seria absurdo se eles aparecessem entre os indicados da Academia.

  O roteiro pode parecer confuso, mas é proposital. O filme explora os efeitos do isolamento máximo de um ser humano. Principalmente, no personagem do Robert Pattinson. O filme é basicamente a mente dele. Thomas Howard, um homem cheio de segredos, chegou ao farol para ajudar Thomas Wake (Willem Dafoe), que estava há anos no Farol. A relação entre os dois não começa muito bem, pois Wake deixa claro, que ele era o chefe e o único a poder ficar no topo do farol. Daí, a gente já percebe, um dos efeitos do isolamento. Wake criou suas próprias leis, seus próprios horários e sua própria religião: O Farol. Mas especificamente, a luz que sai dele.

  Entre peidos, arrotos, xingamentos e querosene, a relação entre os Thomas vai ficando mais intensa, com momentos até de sensualidade. Quando bêbados, parece que a qualquer momento, os dois vão se socar, ou se beijar. Inclusive, cada um cria suas figuras sexuais. A de Howard, é uma boneca de sereia. Porém, com o passar do tempo e a perda da sanidade, ele vai tendo visões dessa sereia, imaginando até mesmo a vagina dela. A figura sexual de Wake é… a luz. Num dia, quando Howard ia abastecer o farol, ele vê esperma caindo do topo. Sim. Eggers se preocupa com todos os mínimos detalhes. As más condições para se dormir, para comer, para fazer as necessidades. Tudo é passado com minúcia. 

  Howard começa a invejar Wake, começando a se perguntar por que ele tinha que ser o chefe e só ele, poderia entrar e ver a luz. Vamos entrando cada vez mais na mente de Howard, notando inclusive, que provavelmente ele é um criminoso. Ele começa a projetar a luz, quase como um deus. E o objetivo dele, passa a ser chegar até ela, para ver se conseguia até o perdão pelos seus piores pecados.

  Robert Eggers está melhor a cada filme. A Bruxa, já havia sido um grande acerto. O Farol e A Bruxa (2015), são obras de arte magníficas e já estão entre os clássicos Cult. Impressionante a evolução de Robert Pattinson. De piada sendo Edward em Crepúsculo (2008), a grandes atuações mais recentemente. Até então, Thomas Howard era o grande papel de sua carreira, até surgir The Batman (2022). A atuação de Willem Dafoe (já há muito tempo, um dos grandes atores do cinema mundial), também foi brilhante. Um acabou potencializando o outro. Quem assistiu, sabe qual é uma das melhores cenas do filme: “What? What? What?...”.  Só quem assistiu, vai entender. 

  Vamos abrir a mente, pessoal! É ótimo ir ao cinema e ver um blockbuster, com um óculos 3D e tudo mais. Mas não critiquem o cinema arte, como se ele não valesse um ingresso, sendo que o problema dele não ter sido bom… é você mesmo. Se você analisar A Árvore da Vida (2011), da mesma forma que analisa um filme dos estúdios MARVEL, você não vai entender nada do filme. Mas o pior, é quem critica o filme, como se o erro estivesse nele. O Cinema é e tem que ser cada vez mais democrático. Deve sim atingir as grandes massas. E de certa forma, ele traduz o momento que estamos vivendo. É o momento do simples e rápido. E isso se traduz em tudo. Filmes de heróis atingem o público em massa, por terem roteiros fáceis de compreender, que se auto-explicam, que não deixam questões escondidas e tem uma levada veloz e objetiva. Filmes como Roma (2018), O Farol, Guerra Fria (2018), são cada vez mais feitos para públicos seletos, pois trazem uma ideia de roteiros intrincados, trazendo histórias e personagens distantes da massa, (afinal, a pessoa que tem sofrido com emprego, faculdade e relacionamento, prefere muito mais se identificar com um super-herói, do que com um faroleiro bêbado) e a levada detalhista, lenta e bastante calma. Mas, podemos aprender com os dois estilos. Nenhum filme é digno de lixo. Em todos eles, podemos tirar algo de positivo. O cinema é a luz que pode iluminar nossa consciência. E essa luz, é acessível para todos nós.


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